quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O que VOCÊ deixaria aos pés da CRUZ?



O monte está em silêncio. Não parado, mas em silêncio. Pela primeira vez durante todo o dia não há barulho. O clamor começou a acalmar quando a escuridão — aquela atordoante escuridão do meio-dia — dissipou-se. Como a água mergulha no fogo, as sombras mergulharam no ridículo. Cessaram os insultos. Cessaram as piadas. Acabaram os gracejos. E, nesta hora, não havia mais escarnecedores. Um a um, os espectadores viraram-se e começaram a descer.

Isto é, todos menos você e eu. Nós permanecemos no local. Viemos para aprender. Então ficamos na semi-escuridão e prestamos atenção. Ouvimos os soldados amaldiçoando, os transeuntes questionando e as mulheres chorando. Porém, acima de tudo, ouvimos o gemido dos três homens que morreram. Gemidos roucos e sedentos. Eles gemiam a cada mínimo movimento da cabeça e do corpo.

No entanto, na medida em que os minutos se tornaram horas, estes gemidos diminuíram. Os três pareciam mortos. Não fosse pelo fio de respiração que ainda restava, poderíamos pensar que estivessem mortos.

Então veio o grito. Como se alguém tivesse puxado seus cabelos, sua nuca jogou o pescoço contra a inscrição com seu nome, e Ele gritou. Como a espada rasga a cortina, seu grito rasgou a escuridão. Em pé como os cravos permitiam, Ele gritou como quem grita por um amigo perdido: "Eloim!"

Sua voz estava rouca, ferida. Reflexos das chamas das tochas

dançavam diante de seus olhos. "Deus Meu!"

Ignorando o vulcão das dores que surgiam, Ele endireitou osombros até que ficassem acima de suas mãos pregadas. "Por que me desamparaste?"

Os soldados ficaram atônitos. O pranto das mulheres cessou. Um dos fariseus disse de forma sarcástica: "Ele está chamando por Elias". Ninguém riu.

Ele proferiu uma pergunta em direção ao céu, e talvez

esperamos que o céu tenha mandado uma resposta.

Aparentemente, isto aconteceu. Porque o semblante de Jesusmudou e a luz da tarde cessou quando Ele pronunciou suas últimas palavras: "Está consumado. Pai, em suas mãos entrego o meu espírito".

Ao dar seu último suspiro, a terra moveu-se repentinamente. Uma rocha rolou, um soldado tropeçou. Então, subitamente, retomou o silêncio, assim como fora quebrado.

E agora tudo está quieto. Não há mais escárnio. Cessaram os

gracejos. Não há mais a quem escarnecer.

Os soldados estão ocupados com o trabalho de retirar os

mortos.

Então chegaram dois homens. Bem vestidos e com boa

aparência, a eles é dado o corpo de Jesus.

E somos deixados com as relíquias de sua morte. Três cravo em uma caixa.
Sombras de três cruzes.
Uma coroa de espinhos com gotas de sangue.

Bizarro, não? E pensar que este sangue não é de um homem

comum, mas o sangue de Deus?

Que loucura, não é? Pensar que estes cravos prenderam seus

pecados em uma cruz?

Concorda que é um absurdo? Um patife fez uma oração e esta foi respondida? Ou mais absurdo ainda foi o outro patife não ter feito oração alguma?

Absurdo e ironia. O monte do Calvário nada mais é do que

ambos.

Nós teríamos agido de outra forma. Pergunte-nos como Deus deveria redimir seu mundo e mostraremos! Cavalos brancos, espadas flamejantes. Deus em seu trono.

Mas Deus em uma cruz?

Deus na cruz, com os lábios rachados, olhos entreabertos e

rosto ensangüentado?

Cuspiram em seu rosto! Furaram o seu lado! Lançaram sorte

aos seus pés!

Não! Nunca teríamos escrito o drama da redenção desta

forma.

Mas, novamente, não fomos consultados. Estes personagens e acontecimentos foram uma escolha celestial e ordenada por Deus. Não coube a nós designar o momento.

Mas fomos chamados para responder a isto. Para que a cruz de Cristo fosse a cruz da sua vida, você e eu precisamos trazer algo até o Calvário.

Vimos o que Jesus trouxe. Com cicatrizes em suas mãos, Ele ofereceu perdão. Através da carne traspassada Ele prometeu aceitação. Ele abriu o caminho para levar-nos ao lar. Ele vestiu nossas vestes para dar-nos as suas. Temos visto os presentes trazidos por Ele.

Então a pergunta: o que trouxemos?

Não nos é solicitado que carreguemos os cravos ou façamos

os inscritos. Não nos é requerido que recebamos o cuspe ou coloquemos a coroa de espinhos sobre a nossa cabeça. Mas é nosso dever trilhar o caminho e deixar algo aos pés da cruz.

Certamente que não somos obrigados. Muitos não o fazem. Muitos têm feito o mesmo que nós: mentes melhores do que a nossa têm lido sobre a cruz; mentes mais sábias têm escrito sobre ela. Muitos têm ponderado sobre o que Cristo deixou, e poucos têm pensado no que nós precisamos deixar.

Posso adverti-lo a deixar alguma coisa aos pés da cruz? Pode- se observar a cruz e analisá-la. Pode-se ler sobre ela. Mas, até que algo seja deixado aos pés da cruz, você ainda não a abraçou.

Já vimos o que Cristo deixou. Você também não vai deixar

algo?

Por que não começar com seus maus momentos?

Aqueles maus hábitos? Deixe-os aos pés da cruz. Seus modos egoístas e mentirinhas? Entregue-os a Deus. Suas farras e fanatismos? Deus os quer. Cada deslize, cada falha. Ele quer cada um. Por quê? Porque Ele sabe que não podemos viver com eles.

Eu cresci jogando futebol em um campo vazio perto da nossa casa. Muitas tardes de domingo foram passadas imitando Don Meredith ou Bob Hayes ou Johnny Unitas. (Não era preciso imitar Joe Namath. A maioria das meninas me achava parecido com ele.)

No Texas, os campos vazios são cheios de carrapichos. Carrapichos doem. Não dá para jogar futebol sem cair, e na parte oeste do Texas, não dá para cair e ficar ileso.

Lembro-me de inúmeras vezes em que fiquei com tantos espinhos que era necessária ajuda de fita adesiva para retirá-los. As crianças não confiam umas nas outras para tirar carrapichos. É preciso alguém com habilidade. Eu mancava até minha casa para que meu pai pudesse grudar a fita adesiva, uma em cada doloroso espinho, e arrancá-los.

Eu não era muito esperto, mas de uma coisa sabia: Se

quisesse voltar para o jogo, era preciso me livrar daqueles espinhos.

Cada erro na vida é como um carrapicho. A pessoa não consegue viver sem cair, e é impossível cair e ficar ileso. Mas, sabe de uma coisa? Nem sempre somos espertos como os jogadores de bola. Algumas vezes tentamos voltar para o jogo sem usar as fitas adesivas. É como se não desejássemos que as pessoas soubessem que caímos, e então fingimos que nada aconteceu. Conseqüentemente, vivemos em dor. Não conseguimos andar direito, dormir direito, descansar. E, ah, como ficamos suscetíveis.

É desejo de Deus que vivamos desta forma? Não! Leia a sua

promessa: "E este será o meu concerto com eles, quando eu tira os seus pecados" (Rm 11.27).
Deus faz mais do que perdoar nossos pecados. Ele os remove!
Precisamos apenas levá-los até Ele.
Ele não apenas quer os erros que já cometemos, mas também

os que temos cometido! Você está cometendo algum erro? É este o

seu caso? Tem bebido muito? Está sendo desonesto no trabalho ou

traindo seu cônjuge? Tem administrado mal o seu dinheiro ou a

sua vida?

Em caso afirmativo, não finja que está tudo bem. Não finja que não caiu. Não tente voltar para o jogo. Vá primeiro até Deus. O primeiro passo após a queda precisa ser em direção à cruz. "Se

confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar

os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1.9).

O que você pode deixar aos pés da cruz? Comece com seus maus momentos. E, enquanto estiver lá, entregue a Deus os seus momentos enlouquecedores.

Você conhece a história do homem que foi mordido pelo cão?

Quando soube que o cachorro estava louco, passou então a escrever uma lista. O médico disse-lhe que não havia necessidade de fazer um testamento, pois a raiva tinha cura. "Ah, mas eu não estou fazendo o meu testamento", respondeu ele, "estou fazendo uma lista das pessoas que quero morder".

Não poderíamos todos nós fazer esta lista? Você já aprendeu que os amigos nem sempre são amigáveis? Vizinhos nem sempre são amáveis? Alguns funcionários nunca trabalham, e alguns chefes nem sempre são mandões?

Tenho certeza de que já aprendeu que uma promessa nem sempre é cumprida. Não é porque alguém tem o título de pai que agirá como tal. Mesmo embora os noivos tenham dito "sim", no altar, eles podem dizer "não" durante o casamento.

Você já aprendeu que sempre tentamos revidar, guardamos

listas e resmungamos sobre as pessoas de que não gostamos?

Deus quer a sua lista. Ele inspirou seu servo a escrever sobre a caridade: "não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal" (1 Co 13.5). Ele quer que abandonemos a lista aos pés da cruz.

Não é fácil.

"Mas e o que eles fizeram contra mim?", argumentamos e

mostramos nossas mágoas.

"Apenas olhe para o que Eu fiz por você", lembra-nos Ele

apontando para a cruz.

Paulo escreveu: "se algum tiver queixa contra outro; assim

como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também" (Cl 3.13).

Você e eu recebemos a ordem — não fomos advertidos, mas

ordenados — a não guardar lista de pecados.

Além do mais, você realmente deseja guardar uma? Realmente quer catalogar todos os seus maus-tratos? Deseja realmente resmungar e ser agressivo durante toda a sua vida? Deus também não quer. Abandone seus pecados antes que eles contaminem você, e seu rancor, antes que eles o incitem. Entregue a Deus a sua ansiedade, antes que ela o iniba. Dê a Deus os seus momentos de ansiedade.

Certo homem disse a um psicólogo que suas ansiedades estavam lhe atrapalhando o sono. Algumas vezes ele sonhava ser uma casinha de cachorro; outras, uma tenda indígena. O psicólogo rapidamente analisou a situação e respondeu: "Sei qual é o seu problema. Você está muito tenso".

A maioria de nós está. Para nós, que somos pais, a situação é

ainda pior. Minhas filhas chegaram à idade permitida para dirigir. Parece que foi ontem que eu as estava ensinando a andar, e agora elas estão atrás de um volante. É assustador. Estou pensando em fazer um adesivo especial para o carro de Jenna: "Como estou dirigindo? Ligue 0800-Papai".

O que fazer com estas preocupações? Leve suas ansiedades aos pés da cruz — literalmente. Da próxima vez que estiver preocupado com sua saúde, casa, finanças ou vôos, faça uma viagem mental até o Calvário. Passe algum tempo olhando para os instrumentos da paixão.

Passe o polegar sobre a ponta da lança. Sinta o espinho na palma de sua mão. E, ao fazer isto, toque nas vestes, molhadas com o sangue de Jesus.

Sangue que Ele derramou por você. A lança que o feriu por

você.

Os cravos que Ele sentiu por você. O sinal que Ele deixou

para você.

Ele fez tudo isto por você. Sabendo disso, conhecendo tudo o

que fez por você, não acha que Ele cuidaria de sua vida aqui?

Ou, como escreveu Paulo: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?" (Rm 8.32).

Faça um favor a você mesmo. Deixe seus momentos de ansiedade aos pés da cruz. Abandone-os lá, junto com seus maus momentos, seus momentos enlouquecedores e momentos de ansiedade. E, posso sugerir mais uma coisa? Seu momento final.

A menos que Cristo venha antes, você e eu teremos o nosso momento final. O suspiro final. O último abrir de olhos e a última batida do coração. Em uma fração de segundo você deixará o conhecido e entrará no desconhecido.

É isto que nos incomoda. A morte é o grande desconhecido.

Costumamos ser um tanto céticos quanto ao desconhecido.

Sara certamente é. Denalyn e eu pensamos que fosse uma

grande idéia. Raptamos as crianças na escola e as levamos direto

para uma viagem de fim de semana. Fizemos reservas em um hotel e contamos para as professoras, porém pedimos segredo. Quando aparecemos na sala de aula da Sara, que freqüentava a quarta série, na tarde de sexta-feira, pensamos que ela ficaria emocionada. Mas não. Ela não gostou da interrupção.

Quando saímos, assegurei-lhe que nada estava errado. Fomos buscá-la para ir a um lugar divertido. Não adiantou. Quando chegamos ao carro, ela estava chorando. Sara ficou confusa. Ela não gostou da interrupção.

Tampouco nós. Jesus prometeu voltar em uma hora inesperada e nos levar deste mundo cinzento que conhecemos, para um mundo dourado que desconhecemos. Porém, uma vez que não conhecemos, não temos certeza de querer ir. Ficamos até mesmo preocupados só de pensar em sua volta.

Por este motivo, Deus quer que façamos o mesmo que Sara finalmente fez — confiou em seu pai. "Não se turbe o vosso coração", disse Ele, "virei outra vez e vos levarei para mim mesmo,

para que, onde eu estiver, estejais vós também" (Jo 14.1,3).

A propósito, depois de algum tempo Sara relaxou e aproveitou a viagem. Na verdade, ela nem queria voltar. Você também não vai querer.

Preocupado com seus momentos finais? Deixe-os aos pés da cruz. Deixe-os lá, junto com seus maus momentos, momentos enlouquecedores e momentos de ansiedade.

Alguém pode estar pensando: "Sabe, Max, se eu deixar todos

estes momentos aos pés da cruz, só me restarão bons momentos".

Bem, e o que você tem a perder? Concordo, só lhe restarão

bons momentos.


Retirado da Obra: Ele Escolheu os Cravos - Max Lucado

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